quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"O dia do Iogurte"

Lembro-me que quando era uma garotinha, uma vez ao mês tomava iogurte. Era um dia muito esperado, por mim e meu priminho da mesma idade, Flávio. Minha avó ia ao supermercado e nós, ansiosamente, aguardávamos seu retorno com nossos potinhos de creme geralmente rosa e sabor morango. Não era uma bandeja com 06 unidades que ela trazia, era um pra cada e pronto! Sentávamos frente à TV, numa posição quase solene e minha avó trazia a iguaria tão aguardada. Degustávamos devagarzinho, apreciando cada pequena colherada, depois, raspávamos o copinho até não haver nenhum resquício de iogurte ali. Certa vez, devido tamanha euforia, derrubei meu potinho no chão... tinha dado 02 ou 03 colheradas. Chorei, porém, o Flávio dividiu o dele comigo depois...
Hoje fui ao supermercado e quando ingressei na fila do caixa presenciei algo que, imediatamente, me fez lembrar do “dia do iogurte” que vivia quando criança. Na fila estavam mãe e filho, um menino com algo em torno de 05 ou 06 anos. O garotinho, quando se deu conta que as deliciosas guloseimas que sua mãe escolhera pra ele não eram de marcas famosas ou sei lá o quê, jogou um pacote de salgadinho e a bandeja de iogurte (sim a mãe dele compra iogurte de bandeja pra ele) no chão enquanto gritava, chorava, esperneava e simultaneamente ia dizendo que não gostava “dessas porcarias” que queria de uma tal marca. Tentei, juro que tentei, não fazer cara de horror ao ver aquilo, acho que não consegui (rsrs). A mãe ameaçou de dar umas palmadas no garoto, mas ficou só na promessa mesmo (também vai que ela bate e a lei da palmada recai sobre a ‘pobre’ mãe), a faxineira do supermercado veio com pano e esfregão para limpar a sujeira feita pelo precioso iogurte, que ao ser atirado ao chão espatifou-se e sujou o local (acho que o Flávio e eu morreríamos se quando crianças presenciássemos aquilo) . A mulher meio sem graça se virou pra mim, que fingi não estar prestando atenção naquilo e me disse que se chegasse a vez dela, eu poderia passar na sua frente, pois ia buscar algumas coisas que esqueceu. Mentira! Ela voltou em seguida, antes que chegasse a sua vez com muitos biscoitos, salgadinhos e iogurte, todos com embalagens estapandas por super-heróis, personagens de desenhos animados e de marcas conhecidas por crianças e adultos. Pronto. O garoto ganhou. Uma chorada, coisas atiradas ao chão, expor a mãe ao ridículo e bingo!!! Seja feita a vossa vontade. Amém!


Estou citando isso pura e simplesmente para frisar como as coisas mudaram. Com certeza a maioria das pessoas que hoje tem a minha idade e talvez tenham tido o mesmo estilo de criação e situação financeira que eu, nunca fizeram algo sequer vagamente parecido com seus pais como fez o garotinho citado nesse texto. Eu nem ia ao supermercado com minha Avó... Nunca escolhi roupas, calçados e tão pouco o que seria comprado pra comer.
 Pais, cuidado. Estamos criando seres humanos, que logo se tornarão adultos. Se ficarmos nos dobrando as suas vontades e mazelas desde pequenos, quando chegarem aos 20 anos, ou até antes disso, estaremos subornando policiais para tentar livrá-los de crimes horríveis como atropelamentos fatais em vias interditadas ou assassinato de moradores de ruas... (quaisquer semelhanças com fatos reais não são meros acasos), visitando-os em cadeias ou até depositando flores em seus túmulos. Não, eu não estou exagerando.
 Amar um filho não é dar tudo o que ele quer por que ele chorou, porque você tem condições ou simplesmente porquê você quer que ele tenha TUDO o que você nunca teve. Com certeza amar um filho é dizer não, é ensinar o valor das coisas conquistadas, mostrar que nada vem do céu e que não se tem tudo o que se quer chorando jogando coisas no chão. Amar um filho é dar o que ele precisa pra se tornar um cidadão de bem, sem vícios, sem preconceitos, sem caráter deturpado. Dar o melhor para um filho é dar aquilo que o faça SER MELHOR e não dar o que o faça achar que pode tudo num piscar de olhos. Quem sabe assim os sabores de pequenas coisas tenham um grande significado e tudo valha realmente a pena?!

 
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”(Nelson Mandela)

 Abraços...
Cíntia Marmól












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